É engraçado mas não consigo encontrar um único vencedor ontem das eleições da Câmara de Lisboa, senão vejamos:
- Os políticos, em geral, saíram a perder com a maior abstenção em eleições autárquicas de sempre, traduzido nuns redondos 62.61% que decidiram ir fazer qualquer coisa de útil em vez de fazerem uma simples cruzinha. Tenho que confessar que aqui me sinto numa clara minoria;
- O PS, que andou toda a campanha a pedir maioria absoluta, ficou-se por uns míseros 29.54% e, ao contrário do que um Perestrelo qualquer disse, nem teve o dobro dos votos do segundo classificado. Para conseguir a maioria, terá que coligar-se com duas forças políticas de esquerda (muito difícil) ou cometer seppuku político. De qualquer das maneiras, como eu previa, torraram um dos melhores ministros deste Governo (já o tinha sido na anterior governação da rosa), e o desconforto era evidente nas faces aquando do "discurso de vitória";
- O PSD mostrou-se ao país como anda: sem ideias, sem rumo, sem projecto e, sobretudo, sem capacidade para fazer uma oposição forte e inteligente, a bem da qualidade democrática do país. Resultado claro foi o pedido de eleições directas por parte de Marques Mendes. Ao menos não podem chamar o homem de agarrado ao poder;
- Carmona Rodrigues teve o condão de me causar o único sorriso da noite, e foi um sorriso de cor amarelada: então não é que o país ainda gosta da história do 'coitadinho'? É por essas e por outras que o Paulinho das Feiras ainda tem quem o beije nos mercados por esse país fora. Por outro lado, cada vez mais penso que para os portugueses, ser suspeito de corrupção é uma garantia de muitos votos ("Bem, este ao menos não esconde, é honesto!", dizem alguns). Então se passarmos de suspeito a arguido, é logo garantida a eleição. Obviamente, também não conseguiu a votação histórica que tanto apregoou na campanha, sendo mesmo assim o mais leve derrotado da noite;
- Helena Roseta não tem estofo para ser cabeça de cartaz de qualquer campanha. É muito ingénua e isso provou-se quando só à enésima carta que escreveu à direcção do PS é que percebeu que o PS queria ganhar a Câmara mas não queria resolver os problemas dessa mesma Câmara. Mais a mais, uma candidata esquecer-se dos documentos para votar também não é um bom cartão de visita;
- O PCP nunca perde mas conseguir a proeza de perder 9867 votos (fazendo a ponderação da votação que teve agora com a abstenção de 2005). Além disso, caíu de 3º para 5º. Bom, se isto não os faz perder, o que será que faz? Talvez aquando da exumação de Álvaro Cunhal e por análise aos seus ossos, descobrir-se que, afinal, ele era uma ela. Mesmo assim, eles haveriam de arranjar maneira de aquilo ser uma vitória...
- O BE manteve o Zé ao pé do Cais do Sodré, mas perdeu votos. Acho que toda a gente começa a estar farto do Zé, porque perceberam que o Zé só refila quando aquilo pode dar-lhe qualquer coisa pelas vias legais, e só embarga quando os donos da obra não são seus amigos pessoais ou do seu clube de eleição. Daí não se perceber como é que ninguém se queixa que o estádio do seu clube está desviado do sítio onde deveria estar, mas implicou com o projecto de um outro clube da capital por faltar espaços verdes ao seu plano de urbanização dos terrenos do antigo estádio (curiosamente, esse clube da mesma cor dos espaços já veio provar que o Zé vê mal), ou implicou com as obras de remodelação de um clube azulão da capital, o que provocou um atraso irreparável e esse mesmo clube terá que jogar em casa emprestada, caso a UEFA não aprove o seu estádio. Não percebram? Quando me encontrarem pessoalmente, eu explico!
- O CDS foi vítima das suas facadas e levou uma dissecação tal que o Paulinho ainda está a pensar se há-de chorar se há-de esconder-se nos EUA. Não elegeram ninguém e foram responsáveis pela primeira falha da minha pessoa na noite de ontem: perdi o discurso de derrota. Mas os meus intestinos têm prioridade absoluta em relação a uma tromba mal disposta da qual já tivémos o prazer de apreciar nas últimas eleições legislativas.
