domingo, 14 de outubro de 2007

Contas vermelhas!

Ora, tentando contrariar-me (e tenho-me baseado unicamente nas contas aprovadas no âmbito da renegociação fiscal, ou seja, nas do ano 2004/05, porque foram auditadas), apareceu que o Benfica reduziu o passivo para o valor mais baixo dos 3 grandes - é certo que o SCP ainda não recebeu o que é dele, de pleno direito, à conta do negócio com a MDC. Ora, vamos a um exercício simples de Matemática, pegando nas contas desde 2003/04, baseado nos textos oficiais:

De 2003/04:
«A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) divulgou ontem o Relatório e Contas da SAD do benfica relativo à época 2003/04, que revela um aumento de 46% do passivo, para 122,79 milhões de euros.»
(não encontrei mais informação)

De 2004/05:
«O Benfica reduziu no exercício 2004/05 o passivo consolidado em 59,970 milhões de euros, menos 16 por cento em relação ao exercício anterior, foi hoje anunciado em conferência de imprensa. Na apresentação das contas consolidadas do clube, Domingos Oliveira, administrador executivo do Benfica, indicou que a redução passou de 375,129 milhões de euros em 2003/04 para 315,159 milhões de euros em 2004/2005, explicando que a mesma se justifica essencialmente pelo decréscimo verificado nas dívidas a terceiros de curto prazo.[...]
As contas consolidadas do Benfica referentes ao exercício de 2004/05 revelam a tendência positiva do ano transacto, em que o resultado líquido consolidado sem interesses minoritários passou de um prejuízo de 11,471 milhões de euros em 2003/04 para 7,514 milhões de euros em 2004/05. De acordo com os números do Benfica, a variação positiva é alicerçada pelo aumento em 17,6 por cento dos proveitos gerados pelo Benfica, que se situaram nos 81,990 milhões de euros. Em relação aos custos consolidados, registou-se um aumento de 5,248 milhões de euros, a que corresponde uma variação de 6,1 por cento face ao exercício anterior.
A Benfica SAD registou prejuízos de 5,8 milhões de euros no exercício fiscal deste ano, o que representa uma melhoria de 26,9% face aos 7,98 milhões de euros registados no período homólogo de 2004, anunciou a SAD esta sexta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Os resultados operacionais melhoraram de 5,9 milhões de euros negativos para os 4,1 milhões de euros negativos. Os proveitos operacionais desceram de 47,5 milhões de euros, para os 46,1 milhões de euros. »

De 2005/06, o relatório diz-nos o seguinte:
«No relatório e contas aprovado por unanimidade esta segunda-feira, a SAD do Benfica apresentou um passivo de quase 152 milhões de euros (151.860.213), o que significa um crescimento de 26,1 milhões (20%) em relação o último exercício.
A Benfica SAD apresentou um resultado líquido negativo de 1,2 milhões de euros no exercício 2005/2006. Em comunicado endereçado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários o clube da Luz reporta uma diminuição dos prejuízos em 79 por cento relativamente à época anterior onde se registaram 5,835 milhões de euros negativos. A SAD encarnada frisa deste modo que a redução dos prejuízos significa uma «evolução favorável» nas contas do emblema. De destacar que em termos de proveitos operacionais houve um aumento de 46,110 milhões para 59,192 milhões fruto da boa prestação da equipa na Liga dos Campeões da época passada.»

Para já, é público e notório a colocação de 2/3 do passivo no clube - nenhuma das outras SAD o faz. Por outro lado, umas continhas simples fazem-nos concluir que o passivo de 2004/2005 da SAD é 125,7 milhões de euros. Ou seja, o passivo está a aumentar descontraídamente em 3 exercícios (nem vou perguntar como reduzem o passivo do clube e com que receitas o fazem pois foi o próprio Luis Filipe Vieira dizer que o «clube está alicerçado do futebol e é daí que vêm 90% das receitas»). Agora vem a pérola, em 2006/07:

«A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, ao abrigo da alínea i) do Artigo 3º do Regulamento da CMVM nº 4/2004, informa que os resultados do exercício de 2006/2007 atingiram o valor de 15,274 milhões de euros, correspondendo ao primeiro ano em que os mesmos são positivos, após 3 anos de tendência francamente favorável.
Este crescimento foi, mais uma vez, alicerçado na capacidade da Sociedade impulsionar um aumento de receitas, que atingiram um montante superior a 83,3 milhões de euros, representado um crescimento de 31,3% face ao ano anterior.
Em termos de custos, a Sociedade não apresentou, em termos globais, uma variação de relevo face ao exercício anterior, tendo atingido o montante de 68,037 mihões de euros (2005/2006: 64,683 milhões de euros), o que representa uma variação de 5,2%. Este crescimento é, em parte, justificado pelo aumento dos custos financeiros e pelo início da utilização do Caixa Futebol Campus.
Os custos com o pessoal apresentaram um decréscimo de 15,9% face ao exercício anterior, tendo atingido o montante de 25,976 milhões de euros (2005/2006: 30,879 milhões de euros), sendo a variação essencialmente justificada pela efectiva diminuição da massa salarial do plantel em cerca de 3 milhões de euros.
Em termos de passivo, verificou-se um aumento em cerca de 3 milhões de euros, correspondendo a uma variação de 2%, face ao exercício anterior, demonstrando que o valor do passivo de 154,9 milhões de euros se encontra estabilizado no final do ano.»

Ou seja, pelo 4º ano consecutivo, o passivo aumenta. (Este passivo faz-me lembrar o desemprego do país: estabiliza subindo, mesmo batendo recordes de receita). Por fim, há que destacar a diminuição dos custos com o pessoal em 5 milhões de euros, e aqui está a génese do que eu acho serem contas em formato aldrabice: se bem se recordam, neste ano, o Miccoli manteve-se, o Rui Costa entrou ao serviço e o jogador que saíu com maior relevância foi o Manuel Fernandes (emprestado a dois clubes ingleses). Redução da massa salarial em 3 milhões de euros, mantendo os ordenados dos emprestados, aumentando o número de jogadores acima dos 200 mil euros (Rui Costa e Miccoli juntam-se a Nuno Gomes, Simão e Luisão) e o número de jogadores total (recorde-se que Derlei chegou no mercado de Inverno e recebia o mesmo que no Dínamo de Moscovo, e o Benfica tem mais de 65 jogadores a contrato, ao contrário dos 59 da época transacta)? Atendendo ao dia de ontem, acredito que seja milagre.
Atendendo a isto, não será de menosprezar o real passivo do Universo Benfica (Clube + SAD) que, atendendo às contas da SAD, só pode continuar a aumentar. Como eu digo aos meus amigos benfiquistas, se eu fosse sócio (se for acionista, o caso ainda piora) eu estaria MUITO preocupado. Mais preocupado estaria (se fosse sócio do Benfica) em saber que o meu clube procura atacar o mercado de Inverno de forma agressiva.
Como sportinguista orgulhoso que sou, só me dá vontade de rir. É sinal que a concorrência está prestes a perder peso e, sabendo ainda que a maior parte dos passes dos jogadores encontram-se em fundos de investimento (para quem tem fraca memória, é só lembrar-se da razão porque o Manuel Fernandes foi para Espanha em vez de ir para Inglaterra), o "prestes" é mesmo a muito breve trecho.

Sem comentários: